sábado, 31 de agosto de 2013

Eu vi as borboletas, Manoel de Barros



"E vi as borboletas. E meditei sobre as borboletas. Vi que elas dominam o mais leve sem precisar de ter motor nenhum no corpo. (Essa engenharia de Deus!) E vi que elas podem pousar nas flores e nas pedras sem magoar as próprias asas. E vi que o homem não tem soberania nem pra ser um bem-te-vi." 

Manuel de Barros

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Rir, Osho



Ao rir sentirá de repente seu corpo e sua alma funcionando juntos. A risada não está só no seu corpo, ela penetra no fundo do seu ser. Surge de você e se espalha por toda a circunferência. Você é um só quando ri.
Aproveite a vida, ria das coisas ridículas à sua volta. Ria durante todo o trajeto até o templo de Deus. Aqueles que riram bastante chegaram lá - as pessoas sérias ainda estão perambulando por aí, com a cara amarrada. 

Osho

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

E se, Ganga White


“E se nossa religião fosse o outro.
Se nossa prática fosse a nossa vida.
Se a oração fosse nossas palavras.
Se o Templo fosse a Terra.
E se as florestas fossem nossas igrejas.
Se águas santas fossem – rios, lagos e oceanos.
E se a meditação fosse nossos relacionamentos.
Se o professor fosse a vida.
Se a sabedoria fosse o auto-conhecimento.
Se o amor fosse o centro do nosso Ser.”


Ganga White

Ganga White é professor de Yoga, fundador do White Lotus Foundation, localizado em Santa Bárbara, California (EUA) e autor de livros como “Yoga Beyond Belief” (2007) e da série de DVDs “Total Yoga“, que já vendeu mais de 1,8 milhões de cópias. Estudou com BKS Iyengar e recebeu o título de Yoga Acharya três vezes do Sivananda Ashram, the Yoga Vedanta Forest University, Rishikesh (Índia).

Fonte: Dharmalog
 http://dharmalog.com/2013/08/12/e-se-nossa-religiao-fosse-o-outro-e-se-nossa-pratica-fosse-a-nossa-vida-ganga-white-e-se/

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Eu sou bom, lenda africana



Há uma tribo africana que tem um costume muito bonito.

Quando alguém faz algo prejudicial e errado, eles levam a pessoa para o centro da aldeia, e toda a tribo vem e o rodeia. Durante dois dias, eles vão dizer ao homem todas as coisas boas que ele já fez.

A tribo acredita que cada ser humano vem ao mundo como um ser bom, cada um de nós desejando segurança, amor, paz, felicidade.

Mas às vezes, na busca dessas coisas, as pessoas cometem erros. A comunidade enxerga aqueles erros como um grito de socorro.

Eles se unem então para erguê-lo, para reconectá-lo com sua verdadeira natureza, para lembrá-lo quem ele realmente é, até que ele se lembre totalmente da verdade da qual ele tinha se desconectado temporariamente:"Eu sou bom".

Fonte: Dharma Comics

terça-feira, 27 de agosto de 2013

A serenata, Adélia Prado

Tela em Acrílico: "Fada" - 80 x 80cmLuiz Henrique


Uma noite de lua pálida e gerânios
ele viria com boca e mão incríveis
tocar flauta no jardim. 
Estou no começo do meu desespero 
e só vejo dois caminhos:
ou viro doida ou santa.
Eu que rejeito e exprobo
o que não for natural como sangue e veias
descubro que estou chorando todo dia,
os cabelos entristecidos,
a pele assaltada de indecisão. 
Quando ele vier, porque é certo que vem,
de que modo  vou chegar ao balcão sem juventude?
A lua, os gerânios e ele serão os mesmos
- só a mulher entre as coisas envelhece.
De que modo vou abrir a janela, se não for doida?
Como a fecharei, se não for santa?

Adélia Prado

Inspirado neste poema, Martha Medeiros escreveu o livro "Doidas e Santas" e posteriormente adaptou para o teatro.

Pintura de Luiz Henrique
https://www.facebook.com/ArteDaNovaEnergia

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Um jardim, Louise Hay



Um jardim começa com um pequeno pedaço de terra onde você joga algumas sementes, rega, cuida e deixa os raios do sol agirem.
No começo parece que nada acontece, mas, se você continuar a fazer tudo isso, se você for paciente, o jardim irá crescer e florir.
Se você pensar em sua vida como um jardim, ou em sua mente como um jardim, ela será assim.


Louise Hay

domingo, 25 de agosto de 2013

Choveu muito, Adélia Prado



Hoje estou melancólica e suspirosa
Choveu muito
A água invadiu este porão, e as lembranças boiam na enxurrada a caminho do rio...
Deixo que naveguem, pois não as perderei...
O rio é dentro de mim.

Adélia Prado 

sábado, 24 de agosto de 2013

A gratidão, Melody Beattie



‎"A gratidão desbloqueia a abundância da vida.
Ela torna o que temos em suficiente, e mais. 
Ela torna a negação em aceitação, caos em ordem, confusão em claridade.
Ela pode transformar uma refeição em um banquete, uma casa em um lar, um estranho em um amigo.
A gratidão dá sentido ao nosso passado, traz paz para o hoje, e cria uma visão para o amanhã."


Melody Beattie

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

A energia do hábito, Thich Nhat Hanh



Suponha que temos o hábito de caminhar muito rapidamente, muito rápido. De repente, quando chegamos a Plum Village*, somos convidados a desacelerar. Achamos que não é agradável. Uma vez que todos estão andando devagar, você tem que diminuir o ritmo e não se sente feliz. Portanto, sua prática é o motivo de seu sofrimento. Caminhe lentamente, sim, mas ande de tal maneira que te faça feliz, relaxado e calmo, este é o ponto. Temos que perguntar como caminhar lentamente e ainda assim não sofrer, desfrutando da caminhada. Portanto, isto requer algum conhecimento, alguma ideia, alguma prática para poder desfrutar da meditação andando.

Você está diante de uma espécie de hábito, o hábito de caminhar muito rapidamente, correndo. Esse hábito está enraizado profundamente em nossa vida diária. Talvez nossos ancestrais costumassem caminhar muito rapidamente e nos transmitiram essa maneira de caminhar.

Talvez muitas gerações acreditassem que a felicidade está em algum lugar lá no futuro. Temos que ir para esse lugar a fim de sermos felizes. A felicidade não é possível agora, aqui. Esse tipo de crença, consciente ou inconsciente, tornou-se muito forte em nós. Acreditamos que a felicidade é impossível aqui e agora. É por isso que existe um tipo de energia nos empurrando para correr, correr por toda a nossa vida, em busca de um tempo, um lugar, quando a felicidade será possível.

Assim, como entendemos que fomos pegos nesse tipo de hábito, sempre correndo, estamos determinados a parar, para transformar esse hábito e aprendermos como dar passos que possam nos permitir tocar a vida profundamente em cada momento. Com esse tipo de aprendizado e prática, seremos capaz de andar mais devagar e vamos começar a desfrutar do toque da terra com nossos pés, combinando os nossos passos com a nossa inspiração e expiração. Nós apenas nos sentimos maravilhosos ao andar assim, andando sem qualquer intenção de chegar. Isso é novo para nós. Temos que aprender a desenvolver o novo hábito. E à medida adquirimos a energia do novo hábito, vamos passar a desfrutar de um passeio.

Assim, a prática é reconhecer o velho hábito, o hábito negativo, o mau hábito, reconhecer a energia de nossos hábitos e sorrir para eles. E também cultivar o hábito novo, o bom hábito, até que o novo hábito começe a produzir energia. Quando temos um novo tipo de energia, não temos que fazer qualquer esforço, apenas desfrutaremos ouvir o sino, apenas desfrutamos o caminhar lentamente, apenas desfrutamos o comer em silêncio, porque gostamos disso. De repente, a prática torna-se agradável, alegre, nutritiva.

Seria absurdo se nós seguíssemos uma prática que nos faz sofrer. O Buda sempre nos lembra de seu Dharma, sua prática deve ser agradável no começo, no meio, no final. Assim, a prática deve ser linda, deve ser agradável, deve ser alegre, se você está sentado ou em pé, comendo ou bebendo. Se você está cozinhando ou limpando. Cozinhar e limpar devem ser feitos de tal forma que possam lhe proporcionar paz, alegria e nutrição.

Nós sabemos o quão forte, quão poderosa é a energia de hábito. Notamos que há momentos em que não somos nós mesmos, não podemos ser nós mesmos. Somos levados pela nossa energia de hábito. Não queríamos dizer o que dissemos, sabíamos que fazendo isso iríamos criar danos em nosso relacionamento com a outra pessoa. Mas, finalmente, dissemos. Nós sabíamos que não deveríamos fazê-lo. Sabíamos que se fôssemos em frente criaríamos danos em nosso relacionamento. Mas, finalmente, fizemos. Dissemos que era mais forte do que nós. O que era mais forte? A energia de hábito. Por isso sentimo-nos impotentes. Nós nos sentimos muito fracos de forma que não podemos lidar com a força do hábito que é muito forte.

E depois de ter dito aquilo, depois de ter feito aquilo, lamentamos. Nós sentimos muito, nos condenamos. Às vezes, fazemos uma forte promessa que da próxima vez não vamos fazer novamente. Não vamos dizer outra vez. Mas na vez seguinte, fazemos de novo, dizemos outra vez. A energia de hábito é muito forte. É por isso que temos de ser capazes de praticar para aprender formas de lidar com essa energia de hábito, a fim de transformá-la.

O Buda não recomenda lutar contra sua energia de hábito. Ele recomendou a prática de reconhecer esses hábitos. A prática de reconhecer, se a incluirmos em nossa prática diária, irá tornar-se um outro tipo de hábito, um bom hábito. Você é capaz de reconhecer tudo o que está acontecendo dentro de si mesmo, incluindo a energia de hábito que você considera ser mais forte do que você. Reconhecendo assim, não significa que você tem que sofrer porque tem esse hábito, pois esse hábito pode não ter sido aprendido durante a sua vida. Pode ser um tipo de energia de hábito transmitida por várias gerações de seus antepassados e você só a recebeu. Você tem que reconhecer que ela está presente e tentar transformá-la para si mesmo, para seus pais e para seus antepassados.

Cerca de dez anos atrás, visitei vários estados da Índia para oferecer retiros e palestras de Dharma para as comunidades da sociedade Ambedkar, composta pelos ex-intocáveis. Um amigo dessa comunidade me ajudou a organizar a minha turnê. Um dia eu estava sentado com ele em um ônibus e estava curtindo muito a paisagem do lado de fora. Estava muito feliz por estar na Índia, oferecer retiros e palestras de Dharma e poder desfrutar das pessoas e da paisagem. Quando eu olhei para ele, que estava sentado à minha direita, percebi que não estava relaxado. Ele estava muito tenso. Ele tinha a energia de hábito de se preocupar muito.

Eu sabia que ele estava tentando o máximo para fazer a minha viagem agradável, então eu lhe disse: "Meu querido amigo, eu sei que você está tentando muito fazer minha visita agradável, mas eu gostaria de dizer-lhe que estou muito feliz agora, é muito agradável sentar-me aqui, eu estou desfrutando muito disso, por que você não se senta e se diverte também? Não há nada para se preocupar agora." Ele disse, "OK" e se sentou novamente. Eu continuei a apreciar as palmeiras e outras coisas e poucos minutos mais tarde, eu me virei e olhei e ele estava exatamente como antes, muito tenso, muito rígido.

Eu sei que não é fácil. Quando se pertence a uma casta discriminadas por quatro mil, cinco mil anos, você tem que lutar dia e noite. O hábito de lutar dia e noite estava lá no fundo dele. Ele havia sido transmitido por várias gerações de antepassados.

Lá está ele com sua forte energia de hábito, lutando dia e noite, não sendo capaz de relaxar por um segundo, por um minuto. Claro que podemos ajudá-lo a relaxar, e entender que não há nada para se preocupar, que é possível aproveitar a vida no momento presente.

Ele é perfeitamente capaz de entender isso e praticar, mas não dura. Em apenas alguns segundos ele se permite ser pego novamente por essa forte energia hábito. Portanto, não faz sentido culpar a si mesmo porque você tem essa energia hábito. Você sabe que essa energia hábito não é algo que você criou para si mesmo, ela tem sido transmitida. Você reconhece seus antepassados que sofreram. Você sabe que agora tem uma oportunidade de transformar essa energia para si, para os seus antepassados e para os seus filhos.

Também cerca de dez anos atrás, havia um jovem que veio da América do Norte para Upper Hamlet para praticar e ficou duas, três semanas conosco muito feliz. Ele estava cercado por irmãos e irmãs que sempre praticaram a meditação andando, meditação sentada, trabalho na cozinha com atenção plena, e assim por diante. Um dia, ele foi convidado por amigos para ir ao mercado em St. Foy La Grande para fazer algumas compras, porque era Dia de Ação de Graças e todo mundo foi convidado a fazer um prato, cozinhar algo especial do seu país, para oferecer aos nossos antepassados. Os chineses iriam cozinhar um prato chinês, os holandeses iriam oferecer um prato holandês, e assim por diante. Ele estava fazendo algo com os outros americanos então ele foi para St. Foy La Grande fazer compras.

Enquanto comprava percebeu que ficou agitado, que estava ficando apressado. Ele ficou surpreso, porque durante a sua estada de três semanas em Plum Village nunca havia se comportado assim. Ele estava cercado pela Sangha, e sempre foi consciente e pacífico. A energia da sanga o ajudou a se manter consciente e pacífico, mas nesse momento ele estava sozinho. De repente, sem a Sangha a sua volta a velha energia hábito surgiu. Como ele tinha praticado por três semanas, tinha também um outro tipo de energia, a energia de plena consciência. Ele era capaz de reconhecer a vinda do velho hábito. Ele também viu que tinha herdado o hábito de sua mãe, porque ela sempre foi assim, sempre estava com pressa.

Então ele respirou e disse: "Olá, mamãe". De repente, a energia de hábito não estava mais presente. Ao reconhecê-la, a energia vai perder o seu poder sobre você. Ele vai voltar para a profundidade de sua consciência, em seu corpo, à espera de circunstâncias adequadas para se manifestar novamente. Ele apenas respirou e disse: "Olá, mamãe", reconhecendo o hábito como era. "Minha mãe é sempre assim." Então, ele ficou livre do hábito durante a prática de inspirar e expirar. Ele sabia que sem a Sangha em volta, ainda estava fraco e tentou seguir sua respiração conscientemente. Ele terminou suas compras e veio nos contar a história.

Você pode reconhecer a sua energia de hábito, porque tem a energia de plena consciência, um tipo de energia dentro de você que faz o trabalho de reconhecimento. Plena consciência é a energia que é capaz de reconhecer o que está acontecendo no momento presente. Quando você bebe, sabe que você está bebendo. Quando você respira e sabe que está respirando, a energia da consciência está presente. Nós chamamos isso de plena consciência da respiração - Anapanasati. Quando você anda, e sabe que está andando, a plena atenção está lá. É a chamada atenção ao andar.

Quando você come e sabe que está comendo, que está mastigando, então a plena atenção está presente, chamamos isso de plena consciência de comer. Tentamos estar conscientes em cada ato que fazemos, em cada momento da nossa vida diária e essa é a melhor maneira de cultivar o segundo tipo de energia, a energia de plena consciência, de plena atenção.

In: Livro de Thich Nhat Hanh - "Good Citzens” - Tradução Leonardo Dobbin)

* Plum Village - Centro de Meditação na França.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

A Religião e a Espiritualidade, reflexão



A religião não é apenas uma, são centenas.
A espiritualidade é apenas uma. 
A religião é para os que dormem.
A espiritualidade é para os que estão despertos. 
A religião é para aqueles que necessitam que alguém lhes diga o que fazer, querem ser guiados.
A espiritualidade é para os que prestam atenção à sua Voz Interior. 
A religião tem um conjunto de regras dogmáticas.
A espiritualidade te convida a raciocinar sobre tudo, a questionar tudo. 
A religião ameaça e amedronta.
A espiritualidade lhe dá Paz Interior. 
A religião fala de pecado e de culpa.
A espiritualidade lhe diz: "aprende com o erro". 
A religião reprime tudo, te faz falso.
A espiritualidade transcende tudo, te faz verdadeiro! 
A religião não é Deus.
A espiritualidade é Tudo e, portanto é Deus. 
A religião inventa.
A espiritualidade descobre. 
A religião não indaga nem questiona.
A espiritualidade questiona tudo. 
A religião é humana, é uma organização com regras.
A espiritualidade é Divina, sem regras. 
A religião é causa de divisões.
A espiritualidade é causa de União. 
A religião lhe busca para que acredite.
A espiritualidade você tem que buscá-la. 
A religião segue os preceitos de um livro sagrado.
A espiritualidade busca o sagrado em todos os livros. 
A religião se alimenta do medo.
A espiritualidade se alimenta na Confiança e na Fé. 
A religião faz viver no pensamento.
A espiritualidade faz Viver na Consciência. 
A religião se ocupa com fazer.
A espiritualidade se ocupa com Ser. 
A religião alimenta o ego.
A espiritualidade nos faz Transcender. 
A religião nos faz renunciar ao mundo.
A espiritualidade nos faz viver em Deus, não renunciar a Ele. 
A religião é adoração.
A espiritualidade é Meditação. 
A religião sonha com a glória e com o paraíso.
A espiritualidade nos faz viver a glória e o paraíso aqui e agora. 
A religião vive no passado e no futuro.
A espiritualidade vive no presente. 
A religião enclausura nossa memória.
A espiritualidade liberta nossa Consciência. 
A religião crê na vida eterna.
A espiritualidade nos faz consciente da vida eterna. 
A religião promete para depois da morte.
A espiritualidade é encontrar Deus em Nosso Interior durante a vida. 

Fonte: Comunidade Namastê

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Caminhos para Deus, Baba Aziz, filme



"Há tantos caminhos para Deus quantas almas existem na Terra."

Baba Aziz, no filme "O Príncipe que Contemplava sua Alma".

terça-feira, 20 de agosto de 2013

A parábola do sal




"O velho Mestre pediu ao seu jovem discípulo, que estava muito triste, que enchesse a mão de sal, colocasse o sal em um copo d´água e bebesse.

- Qual é o gosto? - perguntou o Mestre.
- Forte e desagradável - respondeu o jovem aprendiz.

O Mestre sorriu e pediu ao rapaz que enchesse a mão de sal novamente. Depois, conduziu-o silenciosamente até um lindo lago, onde pediu ao jovem que jogasse o sal. O velho sábio então lhe disse:

- Beba um pouco dessa água.

Enquanto a água escorria pelo queixo do jovem, o Mestre perguntou-lhe:

- Qual é o gosto?
- Agradável - disse o rapaz.
- Sente o gosto do sal? - perguntou-lhe o Mestre.
- Não - respondeu o jovem.

O Mestre e o rapaz sentaram-se e contemplaram a linda paisagem. Depois de alguns minutos, o sábio falou ao rapaz:

- A dor existe. Mas o sabor da dor depende de onde a colocamos. Quando você sentir dor na alma, deve aumentar o sentido de tudo o que está à sua volta. Temos de deixar de ser do tamanho de um copo e tornarmo-nos um lago grande, amplo e sereno."

Fonte: Zen Budismo

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Segredos do universo, Rumi

imagem google


"A noite, pedi a um velho sábio
que me contasse todos os segredos do universo. 
Ele murmurou lentamente em meu ouvido: 
- Isto não se pode dizer, isto se aprende." 

Rumi

domingo, 18 de agosto de 2013

sábado, 17 de agosto de 2013

Uma frase pode mudar tudo, Bernardino Nilton Nascimento



Para mim, tudo pode ser resolvido em uma frase, e, certamente, todos nós já dissemos alguma que tocou no coração de alguém. Muitas personalidades, cientistas, filósofos, artistas, religiosos e escritores ficaram marcados, não só por suas obras, mas também por suas frases marcantes.

Muitas vezes, lendo um livro, acabamos marcando algumas frases que gostaríamos que ficassem marcadas em nossos corações. São frases de esperança, de solidariedade, de amor e muitas outras que nos enchem de fé e esperança.

Então, convidei alguns amigos e leitores dos meus artigos para escolherem algumas frases lá escritas.

Uma vez fui fazer uma palestra e só apareceu uma bondosa senhora para assistir. Ela, sentada na primeira cadeira e eu, de pé, atrás de uma mesa com um copo com água que ela mesma colocou. De repente ela se virou, não viu ninguém e perguntou: “O senhor vai começar a palestra só comigo na sala?” Olhei para a sala, respirei fundo e respondi: “A senhora é uma pessoa importante para mim. Darei a palestra sim. Mas, quem disse que a sala está vazia?” A senhora é tudo neste instante! 
Comecei a palestra só com ela, e em 20 minutos a sala estava cheia. Foi aí que passei a dar toda atenção possível às pessoas que estão comigo no agora, no momento presente. Se de repente eu partir para outra vida, carrego comigo o carinho e a atenção que dei à última pessoa que estava comigo.

Uma frase bem feita é como o nascer de uma criança, nos enche de alegria e esperança.

O otimismo não constitui poltrona preguiçosa para os seus crepúsculos de anil. É manancial de forças para os seus dias de luta.

A resistência não é adorno, é o sustento de sua fé.

Paciência não é um vitral gracioso para as suas horas de lazer, é amparo destinado aos obstáculos.

A serenidade não é jardim para os seus dias dourados, é um suprimento de paz para as decepções de seu caminho.

Apesar do meu esforço de inteligência, não consigo descobrir qual é a essência da lágrima em seu mistério e sutileza.

Viver! Este é o lema: colocando toda a emoção para fora, toda a alegria, todo o prazer; unindo-se à natureza, ao belo, rendendo-se aos sentimentos, deixando-se abrir como uma flor.

Para os sentimentos não há remédio. Somente com outros sentimentos é que vem a cura.

Não é fácil falar de Deus com quem está com fome; primeiro tem que se dar o que comer e depois falar de Deus.

São tantos os medos que deixamos de consultar o coração; a mente entra e coloca a preguiça na frente deixando o agora para amanhã, que não existe!

Somos fortes e podemos mudar tudo de ruim que nos acontece, mas temos que ter mais calor humano; devemos ser mais verdadeiros, usar mais o coração nas horas das decisões.

Se formos controlados pelos nossos desejos instintivos, o que nos diferenciará dos animais?

É melhor nos apegarmos aos momentos que estão aqui e agora, porque em um instante podem desaparecer para sempre.

Não podemos abandonar a vida e nem o prazer de viver materialmente; devemos buscar o equilíbrio entre o prazer da vida e a escalada espiritual.

Prazeres materiais e sentimentais são o que não faltam aqui para serem vividos na sua plenitude. Comece, agora, a escrever o final da sua história afirmando o seu amor à vida.

Não temos só que buscar a nossa salvação, mas ir além, buscar a salvação da raça humana.

O tratamento aos animais superou, em muito, o tratamento ao ser humano. Não que os animais não mereçam carinho, mas a raça humana merece, pelos menos, ser respeitada.

Entre o antigo e o novo, entre a teoria e a prática, entre a guerra e a paz, entre a vida e a morte, entre o céu e a terra, entre frio e o calor, entre a alegria e a tristeza, entre a dor e a saúde, entre o feio e o bonito e entre o bem e o mal, tudo muda num piscar de olhos.

Uma vez escutei os gritos de Liberdade, Paz e Amor... 
Pensei ali que tudo iria mudar.
Mas foi só o grito.

Não podemos deixar a Terra virar um cemitério abandonado. A mãe Natureza não merece esse fim.

Paixão não é amor. Amor constrói, faz o dia ficar sorrindo. A paixão é cega, não deixa ver o que é lindo, constrói a raiva, o medo e a mentira.

É mais fácil falar com o coração; ele é intuitivo e sempre tem o remédio certo para cada ocasião.

Hoje a humanidade está descrente do amor, absorvida pelas mais vis ambições. E a Terra vai se tornando um arsenal de guerra, quando deveria ser uma mansão de paz.

Ser bom é ser natural; ser simples é ser normal; ter compaixão é ter coração; ter gratidão é ter alma. A soma destes sentimentos nos faz ser autênticos.

Deixa-me solitário, em plena calma. Só do silêncio quero ouvir a voz enternecida.

Eu quero o silêncio para sentir a vida. Preciso meditar para viver a alma.

Dê-me o direito, ao menos, de viver da poesia! 
Amar e ser feliz, é ter alegria.

Fraco é aquele que fraco se imagina; olha no alto a que o alto se destina.

A confiança em si mesmo é a trajetória que leva ao auge da vitória.

Se imaginares perder, perdido estás. Quem não confia em si, marcha para trás.

Na verdade, ter ou não ter religião não é o que vai fazer você ir para o Céu. Você veio do Céu e seu lugar está lá, esperando a sua volta.

O homem, ao pensar perder a vida, tem uma preocupação muito séria: viver escravizado à matéria.

A sorte do homem é quando recebe o ensinamento raro que lhe proporciona o preparo
suficiente pra enfrentar a morte!

Não é preciso que sejas um profeta ou um doutor e nem que tenhas a sensibilidade de um místico para que as lágrimas, o sofrimento e a dor te façam reconhecer, no interior, as manifestações do teu EU CRÍSTICO! 

Terei de não acreditar nas manifestações de entidades invisíveis e inteligentes, somente por que o ceticismo de alguns homens continua a considerá-las inexistentes?

Por que terei de ouvir o som de cordas frouxas e desafinadas de um pobre instrumento, se pressinto as vibrações e a sublimidade da música divina, que preenche todo o firmamento? 


Bernardino Nilton Nascimento

Fonte: http://somostodosum.ig.com.br/clube/artigos.asp?id=04867

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

As ovelhas e as aves de rapina, Fabrício Carpinejar



“As ovelhas são burras.” 
Lembro quando me saltou essa frase em Friedrich Nietzsche (1844-1900). Ele orientava a não seguir o rebanho da covardia. 

Para Nietzsche, há dois tipos de temperamento: o forte e intrépido representado pela ave de rapina e o segundo volúvel, simbolizado pela ovelha, com o perfil ressentido, escravo do medo. A ovelha anda em bando, não pensa, não se posiciona, volta para seu cativeiro sempre que dá um passo a mais fora dos limites conhecidos. Engana a caça com a "fábrica de mentiras", nunca com o enfrentamento, jamais com o olho no olho. Escapa das aves de rapina se agrupando entre seus semelhantes, esperando que uma outra ovelha seja sacrificada em seu lugar. A ovelha somente se salva pela delação, acha que a fraqueza é mérito.

As aves de rapinas são solitárias. Irão se impor pela firmeza de suas ideias, não temem discordar da maioria ou se expor ao céu da visibilidade. Elas enfrentam as alturas, correm mais riscos, onde o ar é mais rarefeito, mas terão o privilégio das melhores paisagens. 

Já a ovelha termina sua vida olhando apenas para o chão... 


Fabricio Carpinejar

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Bandeiras de Orações Tibetanas



Na história das bandeiras tibetanas de orações é dito que o Buda recitou uma prece e ela foi impressa nas bandeiras de batalha entre dois povos. A paz foi logo restabelecida entre eles. A tradição de oferecer bandeiras de oração ao vento foi introduzida no Tibet no século oitavo por um discípulo do Buda.

Tradicionalmente, as bandeiras são erguidas ao ar livre para que as preces sejam levadas e "recitadas" pelo vento por longas distâncias.
O costume vem do Tibete e remonta ao século XI. Foi o grande mestre indiano Atisha que ensinou aos seus discípulos como imprimir orações e mantras sobre pedaços de tecido, a partir de blocos de madeira gravados.

Estas bandeiras, fixadas a um mastro ou a um bambu, ou costuradas a cordas esticadas entre dois pontos, ondulavam livremente ao vento. Esta tradição acabou por ser muito difundida no seio do Budismo tibetano. À volta dos mosteiros, nos lugares sagrados, presas aos ramos da árvore de Bodhi, em redor do grande Stupa em Bodhnath e mesmo junto a habitações, são encontradas  por toda a parte. Desfraldadas ao vento, a sua presença sonora acompanha a cadência das orações.

Esta prática não é uma superstição; as bandeiras não são talismãs. O Budismo, que Sua Santidade o Dalai Lama diz ser uma «ciência do espírito», debruça-se há muito sobre a natureza e o funcionamento dos fenômenos. Com base na lei do karma, os fenômenos manifestam-se de um modo totalmente interdependente.

Imprimir textos sagrados com uma intenção pura é uma fonte de energia positiva, que produz naturalmente efeitos benéficos. Além disso, o vento que entra em contato com as bandeiras sobre as quais estão impressos caracteres e símbolos sagrados, entra também em contato com tudo o resto. É o ar que respiramos, o oxigênio que se dissolve no nosso sangue, o dióxido de carbono que os vegetais utilizam...O vento,em contato com os símbolos sagrados, espalha por toda a parte os nossos votos para o bem e para a felicidade temporal e última de todos os seres, criando assim um vasto campo positivo.

As bandeiras de oração são para os seres como uma medicina suave, um apelo silencioso à maravilha que temos dentro de nós desde sempre e para sempre.
As bandeiras são em cinco cores: azul  (espaço, céu), branco (ar, nuvens), vermelho (fogo), verde (água, natureza) e amarelo (terra), representa a boa sorte, a energia da vida e a oportunidade de que as iniciativas dêem certo. Os símbolos impressos são variados, o mais comum é o cavalo do vento - LUNG TA -  que representa a boa sorte, a energia da vida e a oportunidade para que tudo dê certo! Quando os cavalos de vento tremulam com o vento, suas preces e mantras são carregados na direção do céu, com a intenção de beneficiar a todos os seres.

Fonte: Blog Um jeito místico de ser

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Aquele que está desperto, Sri AmmaBhagavan

imagem google



Aquele que está desperto não tem diálogo interno.
Aquele que não está desperto se envolve em diálogo interno. 

Sri AmmaBhagavan

terça-feira, 13 de agosto de 2013

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Tente agir de uma maneira, Madre Teresa de Calcutá



"Tente sempre agir de uma maneira que as pessoas fiquem felizes em ter te conhecido. Devemos agradecer às pessoas que nos fazem felizes... São elas os jardineiros encantadores que fazem as nossas almas florescerem."

Madre Teresa de Calcutá

domingo, 11 de agosto de 2013

O pai, Rubem Alves




[...] Pois eu não tinha intenção alguma de escrever sobre o dia dos pais. Mas, de repente, passando os olhos num livro que uma amiga me enviou, encontrei a seguinte afirmação: “Tomar uma decisão de ter um filho é algo que irá mudar sua vida inteira de forma inexorável. Dali para frente, para sempre, o seu coração caminhará por caminhos fora do seu corpo.“

Aí as idéias puseram a se movimentar por conta própria. Pensei na minha condição de pai. É verdade: pai é alguém que, por causa de um filho, tem sua vida inteira mudada de forma inexorável. Isso não é verdadeiro do pai biológico. É fácil demais ser pai biológico. Pai biológico não precisa ter alma. Um pai biológico se faz num momento. Mas há um pai que é um ser da eternidade: aquele cujo coração caminha por caminhos fora do seu corpo. Pulsa, secretamente, no corpo do seu filho (muito embora o filho não saiba disto).

Lembrei-me dos meus sentimentos antigos de pai, diante dos meus filhos adormecidos. Veio-me à mente a imagem de um “ninho“. Bachelard, o pensador mais sensível que conheço, amava os ninhos e escreveu sobre eles. Imaginou que, “para o pássaro, o ninho é indiscutivelmente uma cálida e doce morada. É uma casa de vida: continua a envolver o pássaro que sai do ovo. Para este, o ninho é uma penugem externa antes que a pele nua encontre sua penugem corporal.“ Era isso que eu queria ser. Eu queria ser ninho para os meus filhos pequenos. Queria que meu corpo fosse um ninho-penugem que os protegesse, um ninho que balança mansamente no galho de uma árvore ao ritmo de uma canção de ninar...

Que felicidade enche o coração de um pai quando o filho que ele tem no colo se abandona e adormece! Adormecida, a criança está dizendo: “tudo está bem; não é preciso ter medo“. Deitada adormecida nos braços-ninho do seu pai ela aprende que o universo é um ninho! Não importa que não seja! Não importa que os ninhos estejam todos destinados ao abandono e ao esquecimento! A alma não se alimenta de verdades. Ela se alimenta de fantasias. O ninho é uma fantasia eterna. Jung deveria tê-lo incluído entre os seus arquétipos! “O ninho leva-nos de volta à infância, a uma infância!“ (Bachelard). Aquela cena, a criança adormecida nos braços do pai, nos reconduz à cena de uma criancinha adormecida na estrebaria de Belém! Tudo é paz! Desejaríamos que ela, a cena, não terminasse nunca! Que fosse eterna!

É impossível calcular a importância desses momentos efêmeros na vida de uma criança. É impossível calcular a importância desses momentos efêmeros na vida de um pai. O efêmero e o eterno abraçados num único momento! “Conter o infinito na palma da sua mão e a eternidade em uma hora“: o pai que tem o seu filho adormecido nos seus braços é um poeta! Essas palavras do poeta William Blake bem que poderiam ser suas. Um homem que guarda memórias de ninho na sua alma tem de ser um homem bom. Uma criança que guarda memórias de um ninho em sua alma tem de ser calma!

Mas logo o pequeno pássaro começará a ensaiar seus vôos incertos. Agora não serão mais os braços do pai, arredondados num abraço, que irão definir o espaço do ninho. Os braços do pai terão de se abrir para que o ninho fique maior. E serão os olhos do pai, no espaço que seus braços já não podem conter, que irão marcar os limites do ninho. A criança se sente segura se, de longe, ela vê que os olhos do seu pai a protegem. Olhos também são colos. Olhos também são ninhos. “Não tenha medo. Estou aqui! Estou vendo você“: é isso o que eles dizem, os olhos do pai.

O que a criança deseja não é liberdade. O que ela deseja é excursionar, explorar o espaço desconhecido – desde que seja fácil voltar. Tela de Van Gogh. É um jardim. No lado direito do jardim, mãe e criança que acabam de chegar. Ao lado esquerdo o pai, jardineiro, agachado com os braços estendidos na direção do filho. É preciso que o pai esconda o seu tamanho, que ele esteja agachado para que seus olhos e os olhos do seu filho se contemplem no mesmo nível. A cena é como um acorde suspenso, que pede uma resolução. É certo que o filho largará a mão da mãe e virá correndo para o pai... E a fantasia pinta a cena final de felicidade que o pintor não pode pintar: o pai pegando o filho no colo, os dois rindo de felicidade...

O tempo passa. Os pássaros tímidos aprendem a voar sem medo. Já não necessitam do olhar tranquilizador do pai. É a adolescência. Ser pai de um adolescente nada tem a ver com ser pai de uma criança. Pobre do pai que continua a estender os braços para o filho adolescente, como na tela de Van Gogh! Seus braços ficarão vazios. Como se envergonharia um adolescente se seu pai fizesse isso, na presença dos seus companheiros! É o horror de que os pássaros companheiros de vôo o vejam como um pássaro que gosta de ninho! Adolescente não quer ninho. Adolescente quer asas. Os ninhos, agora, só servem como pontos de partida para vôos em todas as direções. Liberdade, voar, voar... A volta ao ninho é o momento que não se deseja. Porque a vida não está no ninho, está no vôo. Os ninhos se transformam em gaiolas. Se eles procuram os olhos dos pais não é para se certificar de que estão sendo vistos mas para se certificar de que não estão sendo vistos! Aos pais só resta contemplar, impotentes, o vôo dos filhos, sabendo que eles mesmos não podem ir. Nos espaços por onde seus filhos voam os ninhos são proibidos. Mas eles terão de voltar ao ninho, mesmo contra a vontade. E o pai se tranquiliza e pode finalmente dormir ao ouvir, de madrugada, o barulho da chave na porta: “Ele voltou...“

Mas chega o momento quando os filhos partem para não mais voltar.

Através da minha janela vejo um ninho que rolinhas construíram nas folhas de uma palmeira. A pombinha está chocando seus ovos. Vejo sua cabecinha aparecendo fora do ninho. Mas numa outra folha da mesma palmeira há um outro ninho, abandonado. Esse é o destino dos ninhos, de todos os ninhos: o abandono.

Gibran Khalil Gibran escreveu, no seu livro O Profeta, um texto dedicado aos filhos. Não sei de cor suas precisas palavras. Mas vou tentar reconstrui-las. É aos pais que ele se dirige. “Vossos filhos não são vossos filhos. Vossos filhos são flechas. Vós sois o arco que dispara a flecha. Disparadas as flechas elas voam para longe do arco. E o arco fica só.“

Esse é o destino dos pais: a solidão. Não é solidão de abandono. E nem a solidão de ficar sozinho. É a solidão de ninho que não é mais ninho. E está certo. Os ninhos deixam de ser ninhos porque outros ninhos vão ser construídos. Os filhos partem para construir seus próprios ninhos e é a esses ninhos que eles deverão retornar.

Assim é na natureza. Assim é com os bichos. Deveria ser conosco também. Mas não é. Quem é pai tem o coração fora de lugar, coração que caminha, para sempre, por caminhos fora do seu próprio corpo. Caminha, clandestino, no corpo do filho. Dito pela Adélia: “Pior inferno é ver um filho sofrer sem poder ficar no lugar dele.“ Dito pelo Vinícius, escrevendo ao filho: “Eu, muitas noites, me debrucei sobre o teu berço e verti sobre teu pequenino corpo adormecido as minhas mais indefesas lágrimas de amor, e pedi a todas as divindades que cravassem na minha carne as farpas feitas para a tua...“

Sei que é inevitável e bom que os filhos deixem de ser crianças e abandonem a proteção do ninho. Eu mesmo sempre os empurrei para fora.

Sei que é inevitável que eles voem em todas as direções como andorinhas adoidadas.

Sei que é inevitável que eles construam seus próprios ninhos e eu fique como o ninho abandonado no alto da palmeira...

Mas, o que eu queria, mesmo, era poder fazê-los de novo dormir no meu colo... 

Rubem Alves

(Correio Popular, Caderno C, 12/08/2001)


FELIZ DIA DOS PAIS! 

sábado, 10 de agosto de 2013

Redescobrir o mundo, Raphaela de Campos Mello



Refletindo sobre o poder e encantamento que uma criança tem para nos ensinar a magia da simplicidade, do amar por amar, do sorrir despreocupadamente, chorar com toda a sua alma, viver, sentir e ser intensamente o aqui e agora de acordo com o que ela deseja ou necessita… eis que leio este texto que me ensinou ainda mais e, por alguns segundos, apenas fechei os olhos e respirei. Respirei o momento. Respirei apenas o ar. Simplesmente respirei. E decidi compartilhar com vocês.
Redescobrindo o Mundo
Todo bebê tem um pacto com a beleza. Não a beleza escancarada de um pôr do sol, mas a que se esconde nas pequenas maravilhas de todos os dias. Repare como essa gente miúda não desperdiça nenhuma chance de se deslumbrar. É por isso que, ao menor indício de encantamento, lá estão seus olhos inquietos, percorrendo a superfície das coisas com a voracidade dos curiosos. Talvez, queiram nos dizer: acordem esses olhos maduros e cansados para a graciosidade trivial do cotidiano, se desfaçam do acúmulo de convicções, comecem o dia com a mente e o coração tão limpos quanto uma folha em branco. Feliz de quem os escuta e consegue regenerar o olhar, removendo o véu da mesmice, a sombra da rotina, as grades que encarceram as visões preconcebidas. Só assim, munidos de lentes cristalinas, poderemos despertar para uma vida agraciada com o frescor do novo.
texto de Raphaela de Campos Mello

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Suas sementes viverão, Khalil Gibran



E quando você esmagar uma maçã com seus dentes,
diga a ela em seu coração...
"Suas sementes viverão no meu corpo,
e os botões do seu amanhã florescerão no meu coração,
e sua fragrância será o meu hálito,
e juntos nos alegraremos através de todas as estações do ano."

Khalil Gibran

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

A pousada, Rumi




O Ser Humano é como uma pousada
Cada manhã um novo convidado chega
Uma alegria, uma depressão,
Uma consciência momentânea aparece
Como um visitante inesperado
Dê boas vindas e acolha a todos
Até mesmo se eles forem uma multidão de tristezas
Que violentamente agitam sua casa
E esvaziam toda sua mobília
mesmo assim, honre a todos os seus hóspedes.
Eles podem estar clareando você com algum novo deleite
Um pensamento obscuro, uma vergonha, 
receba-os sorrindo à porta, e convide-os a entrar.
Seja Grato a quem vier, 
porque todos foram enviados 
como guias do além. 

Rumi 


In: A pousada

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